Moisés
Sbardelotto[1]
1. Introdução
Nossa pesquisa atual, em nível de doutoramento,
nasce como aprofundamento e extensão de nosso estudo anterior. Neste, abordamos
as interações comunicacionais desenvolvidas nas práticas religiosas do ambiente
católico online brasileiro (Sbardelotto, 2012). Naquele contexto, buscávamos
compreender como se davam as interações entre fiel-sistema-sagrado[2] para a vivência, a prática e a
experienciação da fé nos rituais online do ambiente digital católico
brasileiro, assumindo como corpus de análise quatro sites católicos
brasileiros.
A partir da análise do processo de midiatização,
embasados no pensamento sistêmico-complexo, repassamos conceitos como experiência
religiosa (a base da interação comunicacional nos sites católicos), interação
(as relações e conexões estabelecidas no ambiente digital), interface (as
materialidades tecnológicas e gráficas das mídias online), discurso (coisa
falada e escrita sobre o sagrado) e ritual (operações, atos e práticas
do fiel). Pudemos assim organizar as configurações comunicacionais da religião
no ambiente digital em três âmbitos centrais de análise: a interface
interacional, as interações discursivas e as interações rituais.
Por último, apresentamos algumas pistas de conclusão sobre a religião que nasce
do ambiente online e a mudança na experiência religiosa do fiel e da
manifestação do religioso no ambiente digital, centralmente em cinco pontos:
novas espacialidades, novas temporalidades, novas materialidades, novas
discursividades e novas ritualidades. A essas microalterações da experiência
religiosa no ambiente digital, demos o nome de “midiamorfose da fé”.
Entretanto, tratava-se de apenas algumas das
manifestações do religioso no ambiente digital. A partir dos pontos não
investigados, visamos agora, em nossa pesquisa atual, aprofundar e estender a
análise da interface internet/religião.
Nas chamadas
redes sociais online (como Facebook e Twitter), ambientes digitais
transformados em meio de
comunicação, de interação e de organização social, manifestam-se “pontos” de interação e de
intensas trocas comunicacionais, atemporais e aespaciais, entre internautas.
Nesses ambientes, há inúmeros sentidos religiosos em circulação, por meio de
certas lógicas e regularidades.
Nesse sentido,
o que nos instiga, atualmente, é o que os internautas fazem para além da experiência religiosa
ofertada na internet e dos sentidos religiosos em rede, por meio dos fluxos
comunicacionais do ambiente digital, nos dispositivos interacionais da
internet, como páginas do Facebook vinculadas ao catolicismo (de forma oficial,
oficiosa ou não oficial) e contas do Twitter, particularmente a conta
@Pontifex, perfil oficial do papa na rede de microblogging. Nosso interesse é
analisar a circulação comunicacional sobre a e para além da experiência
religiosa católica, que não se encerra em si mesma, mas interliga o fiel, o sagrado e também
“outro(s)”, a quem o fiel narra a sua experiência, via mídia, consumando e
estendendo sua experiência inicial.
Ou seja, se o
Verbo se faz bit (como intitulamos nossa pesquisa anterior), o religioso também
se faz rede – circula, flui,
desloca-se nos meandros da internet mediante infindáveis ações de produção de
sentido de inúmeros nós (usuários) que compõem a rede. E cada nó reconstrói e
desloca esses sentidos.
A sociedade em geral, portanto, nos mais
diversos âmbitos da internet, fala sobre o religioso e especialmente
sobre o “católico”[3],
ressignificando a experiência, a identidade, o imaginário, a prática, a
doutrina, a tradição religiosas. Esse cruzamento de sentidos colabora para a
reconstrução do catolicismo, de sua imago publica. Portanto, para além da experiência religiosa,
interroga-nos também a experimentação
religiosa. Para além do caráter privado e pessoal da fé online,
interroga-nos também o aspecto público e social do fenômeno religioso
em midiatização digital. Para além de uma prática ritual de fé, interroga-nos
também a prática sociocomunicacional sobre a religião, e o catolicismo
em particular, que influem sobre a experiência e a tradição católicas.
As lógicas e
os protocolos que permeiam esses processos são marcados pela midiatização
digital. Assim, o catolicismo como o conhecemos tradicionalmente vai passando
por deslocamentos em termos de identidade, de imaginário e de prática,
fomentando o surgimento de um “novo” catolicismo – marcadamente midiatizado.
Dessa forma,
nosso problema se articula da seguinte maneira: como se organizam os
processos de reconstrução do “católico” no fluxo comunicacional das redes
sociais estabelecidas na internet, entendido na perspectiva da circulação? Ou
seja, que transformações do “católico” passam a ocorrer por meio de novos usos
sociocomunicacionais que incidem na reconstrução de identidades, autoridades e
comunidades dinamizadas pelas processualidades das redes sociais online? Quais
são as processualidades comunicacionais do Facebook e do Twitter (lógicas,
interfaces, protocolos etc.) implicadas na ressignificação do “católico” em
rede? Como se organiza o complexo sistema de interações entre os interagentes
das redes sociais online? Que desdobramentos a midiatização digital gera nas
experiências, nas crenças e nas práticas católicas?
2. Contextualização
No âmbito católico, Bento XVI, eleito em 2005,
pode ser considerado o primeiro pontífice de uma era em que as mídias digitais
já se encontram instaladas. E o seu papado mostrou uma nova postura da Igreja
perante o contexto das mídias. Se o que vivenciamos ao longo dos últimos anos
com a internet foi chamado de “reforma digital”[4],
a alta hierarquia da Igreja respondeu a esse fenômeno com uma espécie de
“contrarreforma digital”[5],
apropriando-se das mídias digitais. Contudo, nas páginas oficiais da Igreja,
estão contidas as versões autorizadas da tradição e da doutrina católicas. Mas,
em sociedades cada vez mais em midiatização, o fluxo comunicacional dos
sentidos não se deixa deter ou delimitar por estruturas quaisquer. Ou seja,
embora a Igreja reforce sua presença na rede e busque fazer um “uso bom e
sagrado” da internet, o sentido do que é ser católico na sociedade está muito
além (ou aquém) dos interesses eclesiais. Ao se posicionar em uma arena pública
como a internet, a Igreja se coloca em um cruzamento de discursos outros, que
não lhe pertencem e lhe escapam[6].
Nos inúmeros vínculos estabelecidos pelos internautas, o socius como um todo – incluindo o âmbito religioso e o “católico” –
é retrabalhado, reconstruído, ressignificado mediante as processualidades do
ambiente digital, por meio de imagens, textos, vídeos etc. Nessa circulação,
vemos que a sociedade diz “isto é católico”, “isto não é”.
Nesse
sentido, “as transformações da sociedade moderna – pluralismo das concepções de
mundo, privatização e subjetivação do fenômeno religioso – obrigam a todos a
serem ‘hereges’, isto é, a realizar uma ‘livre escolha’ (em grego: hairesis) entre as religiões e as
concepções de mundo existentes em uma dada sociedade” (Martelli, 1995, p.294).
É o que Berger (1980) chama de “imperativo herético”. Se na pré-modernidade, a
heresia era uma possibilidade, na sociedade contemporânea ela se torna uma necessidade, pois é preciso escolher e
decidir diante de múltiplas possibilidades não só religiosas em geral, mas
também “católicas”, em que as definições e as filiações já não se dão mais a
priori. “Em situações pré-modernas, há um mundo de certeza religiosa,
ocasionalmente rompido por desvios heréticos. Ao contrário, a situação moderna
é um mundo de incerteza religiosa, ocasionalmente evitada por construções mais
ou menos precárias de afirmação religiosa” (Berger, 1980, p.28, tradução
nossa). Portanto, de marginal, a “heresia” se torna universal e geral.
Esse processo
se complexifica na internet, em que se vê uma religiosidade em experimentação, marcada pela pouca fidelidade
institucional e doutrinal, pela fluidez dos símbolos em trânsito religioso e
pela subjetivação das crenças. Como afirma Pierre Sanchis[7],
a impressão é de que “há religiões demais nessa religião”. O fiel, portanto,
não é apenas coconstrutor de sua fé, mas também realiza um “trabalho criativo” sobre a própria religião, tensionando a
“interface eclesial”. Esse “sensus
(in)fidelium” manifestado na internet também possibilita a percepção do desequilíbrio entre como o microssistema
religioso (em termos de instituição-Igreja) é pensado e como ele é praticado
pela sociedade. A turbulência, a instabilidade, o desvio provocados pelos
internautas fomentam também a evolução da identidade, do imaginário e da prática religiosas
– nesse caso, rumo a uma abertura sistêmica da Igreja ao pluralismo religioso e
cultural do macrossistema social. Assim, os processos produtivos da religião
passam a não ser mais controlados pela instituição eclesial.
Esse também seria um “sinal dos tempos” da contemporaneidade,
em que assistimos “a uma perda de influência e de poder da instituição
religiosa sobre os comportamentos religiosos comunitários e individuais. Isso
não significa absolutamente o desaparecimento da fé, mas a individualização dos
comportamentos”, em que, “cada vez mais, as pessoas compõem elas mesmas sua
própria religião” (Lipovetsky, 2009, p.61). Portanto, as interações em rede
manifestam que “nossas sociedades continuam agindo social e politicamente [e
também religiosamente] ao deslocar os processos de formação da mente pública
das instituições políticas [e religiosas] para o campo da comunicação,
largamente organizado em torno das mídias de massa” (Castells, 2007, p.258,
tradução nossa).
O que chama a atenção no caso em construção é que,
exatamente em ambientes sem qualquer vinculação com a fé católica, os usuários
encontram formas de dizer o sagrado católico. Cremos que é nas redes da
internet que se revela – e também se constitui – concretamente o que Hoover & Echchaibi (2012, p.16, tradução nossa) chamam de “espaços terceiros” (third spaces),
ou seja, ambientes fluidos “entre o privado e o público; entre a
instituição e o indivíduo, entre a autoridade e a autonomia individual, entre
os grandes enquadramentos midiáticos e o prossumo (prosumption) individual”. Nesses
ambientes, se dá a tensão entre
a identidade/prática oficial da Igreja e a sua identidade/prática
social.
As processualidades comunicacionais envolvidas
nessas práticas, portanto, ajudam a moldar o “catolicismo das redes”. Sendo o
“católico” uma “rede” de construtos sobre o catolicismo (ideias, metáforas,
imagens, discursos), podemos dizer que há uma tríplice rede em jogo que merece
análise: uma rede (internet) de redes (dispositivos interacionais online) em
que circula uma rede de ideias sobre o catolicismo (o “católico”). Todos esses
processos alimentam e dão corpo à circulação comunicacional na internet. E
assim, além de bit, o Verbo também se faz rede.
3. Aparato teórico-metodológico
Partimos da constatação de que vivemos em
sociedades em midiatização, ou seja, sociedades que se regem a
partir de uma “nova ambiência” sociocomunicacional (cf. Gomes, 2008). De certa
forma, McLuhan (1964, p.10) já havia antevisto esse fenômeno ao afirmar que
“toda tecnologia gradualmente cria um ambiente humano totalmente novo”,
ambientes esses que “não são envoltórios passivos, mas processos ativos”. Como
afirma Fausto Neto (2005, p.3), “nada existiria fora, portanto, dessa nova
conformidade [da midiatização], como possibilidade geradora de sentidos”.
Para a compreensão mais aprofundada da
representação social do “católico”, propomos um estudo a partir de dois
círculos teórico-metodológicos inter-relacionados. O primeiro círculo, mais geral, abrange a midiatização, a partir dos conceitos de sistema, complexidade e noogênese. O segundo círculo, mais específico, envolve os estudos de mídia a partir da análise de
dispositivos interacionais online.
Aqui indicaremos algumas linhas gerais.
Segundo Mata (1999, p.86), o agir humano, a partir
da manifestação da midiatização, revela “o novo caráter ‘ontologicamente
privilegiado dos meios de comunicação’ como produtores centrais da realidade”.
E essa produção ocorre a partir das mídias, incluindo as chamadas “audiências”,
que, ultrapassando essa definição, passam a ser cogestoras das próprias cenas
midiáticas, como ocorre na internet. Portanto, para compreender o fenômeno da
midiatização, propomo-nos a explorá-lo em toda a sua complexidade. Por
isso, visamos a retomar e a aprofundar nossos estudos em nível de mestrado
sobre o pensamento sistêmico-complexo (Bertalanffy, 1977; Capra, 1996; Morin,
1997).
Por outro lado, para Chardin (1963), complexidade
e consciência são aspectos correlacionados. Para Chardin, é dessa conjugação
que surge o conceito de noogênese (de noos, espírito), ou seja, a
gênese de uma “esfera terrestre da substância pensante” (Ibid., 1989, p.193,
nota de rodapé). Os dispositivos interacionais online seriam uma demonstração
desse fenômeno: pessoas conectadas por meio de complexos sistemas e regularidades,
dando origem à circulação de uma enormidade de sentidos. Portanto, a noogênese
midiatizada, aumentando a “concentração técnico-cultural humana”, revela que o
ser humano não é um ser “biologicamente estacionário”, mas manifesta um
“extraordinário e irreversível progresso na consciência coletiva pela aparição,
associação e oposição [midiatizadas] das técnicas, dos pontos de vista, das
paixões e das ideias” (Chardin, 1962, p.336), também religiosas.
Esse primeiro círculo teórico servirá de fundamento
e horizonte para a reflexão acerca do segundo círculo, em que encontramos
elementos mais restritos de análise, como os estudos de mídia (media
studies). Para McLuhan (in Mcluhan & Zingrone, 1998, p.284, tradução e
grifos nossos), “o estudo efetivo dos meios não só trata do conteúdo dos meios,
mas dos meios em si e do ambiente cultural total dentro do qual
os meios funcionam”. No âmbito dos dispositivos interacionais online,
buscaremos “descobrir seus princípios operativos e suas linhas de força” (Ibid.),
que possibilitam a representação social do “católico”. Isso nos ajudará a
perceber como esses dispositivos online – como uma massagem – “trabalha[m],
satura[m], modela[m] e transforma[m] todas as relações dos sentidos” religiosos
(Ibid, p.385).
Para melhor explicitação, é preciso esclarecer
que entendemos as mídias não apenas como aparatos tecnológicos, mas sim como “dispositivos sociotécnicos e sociossimbólicos, baseados cada vez mais
no conjunto de técnicas (e não mais em uma única técnica, como antigamente)”
(Miège, 2009, p.110). Ou seja, são dispositivos técnicos que ganham sentido a
partir dos usos e práticas sociais.
Por isso, as mídias são justamente as interfaces,
as conexões e as interconexões sociotécnicas que passam a estabelecer redes
complexas de circulação comunicacional. Nesse contexto, a midiatização pode ser
entendida como uma “ação das mídias”, envolvendo as inter-relações entre
práticas sociais e inovações tecnológicas voltadas à comunicação. Assim, as
mídias – principalmente a digital, em nosso caso – são um “lócus privilegiado
para compreender a sociedade” (Gomes, 2010, p.104).
Aqui referimo-nos a um meio específico, a
saber, a rede digital, a internet. Em sua forma mais simples, uma rede nada
mais é do que “um conjunto de nós interconectados” (Castells, 2003, p.7), que,
em nosso caso, são os internautas em interação comunicacional. Na internet,
portanto, manifestam-se “determinadas matrizes interacionais e modos práticos
compartilhados para fazer avançar a interação” (Braga, 2011, p.5). Para Braga,
esses “sistemas de relações” ou “ambientes de experiência” são chamados de dispositivos interacionais[8],
que se organizam “social e praticamente como base para comunicação entre
participantes” (Ibid., p.11). Portanto, indo além de uma análise meramente
tecnológica ou computacional das chamadas “redes sociais”, reconhecemos que a essência das redes não está na rede, mas
sim em seus modos de uso e de apropriação pela sociedade.
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SBARDELOTTO, Moisés. E o Verbo
se fez bit: A comunicação e a experiência religiosas na internet.
Aparecida: Santuário: 2012. Disponível em: <http://goo.gl/8KjP5W>.
[1] Mestre e
doutorando em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (Unisinos), na linha de pesquisa Midiatização e Processos Sociais.
Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). É autor de "E o Verbo se fez bit: A comunicação e a experiência
religiosas na internet" (Editora Santuário, 2012). É membro da Comissão
Especial para o Diretório de Comunicação para a Igreja no Brasil, da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Coordenou o escritório
brasileiro da Fundação Ética Mundial (Stiftung Weltethos), fundada por Hans
Küng, com sede no Instituto Humanitas Unisinos (IHU), em São Leopoldo, no Rio
Grande do Sul, do qual é atual colaborador. Possui graduação em Comunicação
Social - Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
[2] Por sagrado,
entendemos aquilo que se costuma chamar de Deus, a “dimensão de imanência e
transcendência”, o “Totalmente Outro”, o “superior
summo meo” (superior a tudo, sempre maior) (Boff, 2002), o “numinoso” (do
latim numen = divindade) (Martelli,
1995).
[3]
Por “católico” nos referimos aos construtos
sociais que a sociedade como um todo considera como vinculado ou
relacionado às crenças, discursos e práticas da Igreja Católica, reconstruindo
socialmente a experiência e a tradição católicas. O interesse pelo catolicismo
se deve à sua relevância sócio-histórico-cultural no Brasil. Segundo o IBGE, os
católicos ainda são a maioria religiosa do país, com 64,6% da população em
2010. Dados disponíveis em: <http://migre.me/ddYsQ>.
[4] O conceito é de Drescher (2011, p.XV, tradução nossa).
Afirma a autora: “As mídias sociais digitais estão mudando as práticas de
comunicação, de comunidade e de liderança” e, ao mesmo tempo, “estão nos
reconectando a práticas relacionais antigas e medievais que foram esquecidas ou
abandonadas ao longo dos séculos desde as Reformas Europeias”.
[5]
Em junho de 2010, com grande repercussão midiática, foi lançado o site News.va,
para uma maior inserção da Igreja nas redes sociais online. Um ano depois, o
site do Vaticano (vatican.va) foi reformulado, apresentando uma nova disposição
dos conteúdos e possibilitando seu acesso em celulares e leitores eletrônicos.
Em 2012, novamente em junho, a centenária Rádio do Vaticano anunciou que
deixaria de transmitir sua programação em ondas médias e curtas na maior parte
da Europa e da América, reforçando o acesso através da internet.
[6] Apenas a título de ilustração, o site Facebook
congrega mais de 800 milhões de usuários, 3,9 vezes a população brasileira, ou
ainda 370% da população latino-americana, ou então a mesma quantidade de toda a
população de usuários da internet em 2004. Dados oficiais do Facebook,
apresentados em sua F8 Conference 2011
e disponíveis em <http://migre.me/5Zvbb>.
[7]
Apud TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata. “Muita reza e pouca missa, muito
santo e pouco padre”: o Catolicismo Plural. Site do Instituto Humanitas
Unisinos, 14 jan. 2010, s/p. Disponível em <http://migre.me/99vd2>.
[8]
Pela centralidade da noção de “conexão” nas interações online, poderíamos ainda
chamar essas matrizes de “dispositivos
conexiais” (dispositivos que se organizam em torno a conexões digitais), já
que “os nós [de uma rede] sempre competem
por conexões, porque os links representam a sobrevivência em um mundo
conectado” (Barabási, 2003, p.106, grifo nosso). É interessante perceber as
conexões como competição, porque isso nos leva a abandonar uma ideia de redes
como já dadas, prontas, em que basta apenas analisar as conexões existentes
para inferir vínculos, capitais simbólicos etc. Acreditamos, ao contrário, que
toda rede é uma ação de conexão, um trabalho em rede (network), ou seja, em que as conexões não “existem em si mesmas”,
mas são construídas e mantidas constantemente pela ação social
de comunicação via determinados dispositivos. Para Kerckhove (1999), além
disso, a webness, ou seja, “a
essência de toda rede”, é precisamente a conectividade. Para ele, a internet é
“o meio [mídia] conectado por excelência, é a tecnologia que torna explícita e
tangível essa condição natural da
interação humana” (Ibid., p.25, tradução e grifo nossos). Para o autor, “o
conectado se tornou uma alternativa ao individual e ao coletivo” (Ibid., p.26,
tradução nossa). Esses elementos reforçam a (e demandam ainda um maior
aprofundamento da) especificidade das conexões digitais na configuração dos
dispositivos interacionais online.
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